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As ovelhas e o isolamento social

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Andando pelo Rio Grande conheci um criador de ovelhas, visitei sua propriedade e tive a oportunidade de ver ovelhas procriarem cordeiros gêmeos. Como não entendo de ovinocultura, aproveitei e fiz perguntas que me renderam belas descobertas, analogias ao comportamento humano e aos tempos de isolamento social.

Observei de longe as ovelhas mamando e pulando nas pastagens, emitindo seu mééé! Tive vontade de tocar seus dorsos que pareciam feitos de algodão ou de nuvem caída do céu que se grudara naqueles animais saltitantes.

Na visita, vi que dos animais domesticados, o ovino talvez seja o que mais inspira ternura, pela docilidade e inteligência, por saber diferenciar os do seu rebanho e reconhecer seu pastor.

Ele, hoje, só perde para o gado leiteiro, mas é muito rentável por oferecer leite, couro, lã e carne.

Outra descoberta foi que, a palavra ovelha, se refere apenas à fêmea adulta, pois não existe ovelha macho ou ovelha bebê, o adulto é o carneiro e o filhote é o cordeiro.

Aprendi que, como os cabelos humanos, a lã da ovelha também muda de textura, cor e densidade ao longo da vida, que quanto mais velha, mais fofa e resistente é a sua lã.
Essa belezura lanuda me recordou da Dolly, o 1º mamífero clonado; do comportamento dos humanos também nascidos para viver em grupo na esperança do aconchego, proteção, segurança, liberdade; e da perícope do Bom Pastor que exige de suas ovelhas inocência, mansidão, e docilidade.

Inocência para pastar tranquila, sem atacar ou bater no outro, e não fazer mal, personalizando quem não tem inveja, inimizade, aversão, mora onde a candura e a inocência presidem a vida, e os desígnios e projetos de modo que só tenham razão para estar contente.

A mansidão e humildade de coração para ser capaz de mortificar paixões que impacientam, reprimir desejos que irritam, corrigir gênio melindroso, e ter coração caridoso.

A docilidade para andar ao encontro da paz pelo bom caminho, sem orgulho, prepotência e presunção, certo de que ninguém basta a si mesmo.

Naquele campo, diante do rebanho, pensei no isolamento social e lembrei do bode expiatório hebraico no Yom Kippur, do Dia da Expiação, no Templo de Jerusalém, onde eram levados dois bodes e um touro. O sacerdote pegava um bode para queimar no altar com o touro, o outro era o expiatório que levava o pecado do povo ao anjo caído.

Hoje, todo dia alguém é escolhido arbitrariamente para bode expiatório, levar a culpa da calamidade, mas esta busca é irracional, pois ninguém ou grupo pode ser responsável por problemas vindos com a pandemia mundial. Isto reprisa a história, que sempre procurou culpados pelos colapsos.

Daquele campo saí pensando na beleza da vida das ovelhas e do quanto aprendi de afeto, parceria e cumplicidade com aqueles irracionais.

Caro leitor, também achas que o mundo animal pode nos inspirar?

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